Caso o seu médico não tenha achado alguma alteração hormonal ou outras questões fisiológicas/sono/emocionais responsáveis pelo insucesso no emagrecimento, alguns pontos podem ser levantados, em relação a dupla “adequação alimentar + atividade física” não estarem dando resultado:
ERRO 01. Trocar alimentos “não saudáveis” pelas versões “saudáveis”, sem se atentar à quantidade e densidade energética.
Por muitas vezes os pacientes chegam ao consultório relatando que fizeram trocas importantes para melhora da saúde: exemplo trocar arroz ou pão branco por integral.
Mas é preciso entender que a substituição também precisa ser menos calórica, pois, o déficit energético é fundamental para o emagrecimento.
Seu volume corporal é mantido por uma quantidade de energia específica, e se você quer reduzir este tamanho (e permanecer nele!), a quantidade de energia para este novo estado, necessariamente será menor.
No exemplo acima, trocar arroz/pão branco por integral na mesma quantidade, praticamente não altera o valor calórico!
Sem contar ainda quanto aumentamos o valor calórico reproduzindo aquela receitinha fit da internet: ex. trocar 1 pacote unitário (30g) de bolacha (140kcal) por 1 bolinho de caneca (1 ovo, 1 c sopa aveia, 1 banana, 1 c sopa passas…), só aí temos quase 250kcal. Sim, claro que é mais saudável!!! Mas tem que considerar o dia como um todo, pra não ultrapassar a energia suficiente ao emagrecimento.
Por isso é importante conversar em detalhes sobre a sua alimentação com o nutricionista e entender todo o contexto das trocas. A quantidade que se come é tão importante quanto a qualidade quando se pensa em emagrecimento.
ERRO 02. Ficar de olho na balança o tempo todo
Você está seguindo orientações alimentares para emagrecer e começou atividade física recentemente ou trocou o treino?
Você pode estar ganhando massa magra, o que não o impede de estar perdendo gordura. A balança pode não variar tanto neste caso, mas você vai perceber redução de medidas, principalmente na região do abdômen. Mantendo a alimentação proposta pelo nutricionista, em algumas semanas a massa muscular se ajustará ao nível de atividade física e ficará mais estável, o que em conjunto com a queda contínua de gordura, fará o número na balança cair.
Por isso é importante não olhar apenas o resultado de peso na balança, mas sim, a evolução da sua composição corporal, ou seja, avaliar as variações de massa muscular e gordura separadamente. Existem alguns métodos para este fim. No consultório uso um exame chamado bioimpedância.
Para o mesmo peso, quantidades diferentes de músculo e gordura proporcionarão resultados totalmente diferentes no espelho e na saúde!
ERRO 03. Achar que vai emagrecer mais, comendo cada vez menos
Outro pensamento muito comum é: quanto menos eu como, mais o corpo vai gastar as minhas reservas, aí emagreço rápido!
Não!!!!!!
Reduzir drasticamente a quantidade de comida em relação ao que você come habitualmente é dar um tiro no pé. O corpo entra em estado elevadíssimo de estresse, o que muda o funcionamento de um monte de hormônios que acabam causando redução de massa muscular e maior acúmulo de gordura no abdômen, além de gerar um aumento drástico da fome e redução do metabolismo, ou seja, muito rápido você reduz a velocidade de emagrecimento e desiste da dieta. Isso se não gerar compulsão como rebote.
A reação do corpo (fisiológica e emocional) à restrição alimentar acontece em cima do que você está acostumado a comer. Por isso o nutricionista primeiro pergunta tudo o que você come habitualmente, para assim montar UM PLANO DE TRATAMENTO (e não UMA DIETA, UM CARDÁPIO).
É por isso que o tratamento é feito em etapas, é por isso que uma consulta só não dá nem “pro cheiro”, é por isso que a dieta do seu amigo não funciona para você e é por isso que a dieta da internet funciona só por um tempo.
Converse com o nutricionista!
ERRO 04. Achar que vai emagrecer mais, fazendo cada vez mais atividade física
Um pensamento comum e de certa forma coerente é: quanto mais atividade física, maior o gasto energético e maior o emagrecimento. Certo? Não, infelizmente isso não acontece.
Estudos mostram que o organismo sofre adaptações e essa relação entre atividade física e gasto energético não é linear. É como se o organismo ficasse mais eficiente e se adaptasse, gastando proporcionalmente menos energia por tempo de atividade.
Além disso, o excesso de atividade física pode aumentar a sensação de cansaço, o que promoveria uma redução de outras atividades da rotina, e, portanto, redução do gasto energético total no dia.
O excesso de atividade física também pode aumentar a fome, dificultando o controle alimentar.
A literatura atualmente está estudando a existência de mecanismos compensatórios do corpo para poupar energia, na intenção de preservar o peso habitual, a partir da redução do gasto em atividades/reações metabólicas que nem dependem da nossa atuação! Neste caso, nem o aumento consciente das atividades físicas no geral seriam suficientes.
Desta forma, vale seguir sempre o recomendado pelo profissional de educação física e não o “quanto mais, melhor”.
ERRO 05. Expectativa errada em relação a velocidade de emagrecimento
Você sempre perde muito bem o peso nas 2 primeiras semanas e depois a velocidade é drasticamente reduzida?
Não se preocupe, perdemos muita água no início de restrição energética.
Por exemplo, nas duas primeiras semanas você perdeu 1kg por semana. Se formos avaliar a composição corporal (aqui no consultório avalio pelo exame de bioimpedância), conseguimos verificar que foi 0,5kg de água e 0,5kg de gordura. Após 2 semanas, não há mais redução expressiva de água corporal e ocorre manutenção da queda apenas da gordura, o que será equivalente a 0,5kg por semana, e não mais a 1kg.
De qualquer forma, percebemos que o passar do tempo, sim, existe uma redução na velocidade dessa perda de gordura, e isso pode ocorrer devido a adaptações fisiológicas, discutidas no próximo item.
ERRO 6. Expectativa errada em relação ao peso a ser atingido
Durante o processo de emagrecimento, o corpo pode lançar mão de mecanismos compensatórios, sejam fisiológicos ou comportamentais, com o objetivo de preservar o peso habitual.
Essa teoria ainda não é bem estabelecida pela literatura, mas seria como se cada organismo tivesse um peso padrão estabelecido, e o corpo entenderia uma grande redução de peso como uma ameaça a sobrevivência (o corpo não sabe que você quer emagrecer só 5kg, ele acha que você vai desnutrir até morrer!). Como resposta ao emagrecimento, o corpo promoveria alterações fisiológicas, desde redução do metabolismo até aumento da fome, a fim de preservar ao máximo o peso que ele entende como adequado.
Neste contexto, é fundamental entender a real meta a ser atingida.
No tratamento da obesidade, a meta não é atingir “o peso ideal para a altura”. Isso é um conceito extremamente ultrapassado.
A adequação alimentar e a prática frequente de atividade física geram um estado metabólico, de qualidade do sono, de redução de estresse e de qualidade de vida indiscutivelmente mais saudável, sendo imprudente, portanto, olhar apenas o valor na balança como ponto de avaliação da saúde e sucesso no tratamento.